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sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Operação Choque de Ordem na Maré


Hoje, a Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro realizou a derrubada de diversas barracas e trailers que ficavam na Av. Brasil altura da Vila do João durante a operação Choque de Ordem. Aproximadamente 90 agentes da prefeitura participaram da derrubada que ocorreu durante a manhã e pegou os barraqueiros de surpresa. Jilcleide, 36 anos que há 6 anos tem uma barraca de doces disse: “Perdi metade da mercadoria que comprei ontem, aproximadamente R$ 600,00. Eles chegaram logo cedo pegando todos de surpresa. Será que isso é justo? Que país é esse?” relata a comerciante e moradora da Vila do João que depende do comércio para o sustento da família.
Segundo os barraqueiros não houve qualquer posição da secretaria de Ordem Pública em relação à situação dos comerciantes, até o container do mototaxi foi retirado. São aproximadamente 120 trabalhadores que dependem da venda de suas mercadorias para sobreviver, estavam todos muito revoltados com o que aconteceu, algumas pessoas estão ali a mais de 10 anos.
Aguardamos que a Prefeitura apresente um projeto para legalizar os ambulantes da área, uma vez que apenas remover não resolve o problema maior vivido pela população brasileira que é a desigualdade social. Esperamos do novo prefeito não apenas uma cidade em ordem, esperamos uma cidade mais justa e humana para todos. Não podemos aceitar que pessoas que estão trabalhando sejam retiradas da forma tão brusca que foram, sem que seja apresentado um plano de legalização.


Foto: Site do Jornal "O Dia"

A caminho do Fórum Social Mundial



Já na espera do vôo, no aeroporto da cidade do Rio de Janeiro, a caminho do Fórum Social Mundial, em Belém, consegui sentir o que é o espírito de quem participa de quem sonha e luta não apenas por uma comunidade, cidade ou pais, mas de quem deseja um mundo mais justo, igualitário e solidário.
Já a passos da bela cidade, e da dona das mais famosas castanhas do Pará, consegui saborear o espírito de um encontro que já se parecia único. Encontro este, de pessoas de todas as partes do mundo, de todas as nações, povos e raças.
Já aqui, no primeiro dia, junto com todo este tão grande povo, em meio há mais de cem mil pessoas, na mais famosa Marcha do Fórum Social Mundial, em baixo de uma forte e linda chuva, que com certeza veio para lavar a nossa alma, senti uma vontade enorme de lutar cada dia mais, de não parar nunca. Pois, naquele momento minhas forças se renovaram. Foi ali que percebi que não estava sozinha, muito pelo contrario, vi que existem muitos, na verdade, um mundo com uma vontade muito grande de mudar esta realidade tão injusta.


Por Foto&Jornalismo Maré

Comunidade da Maré e a carência do Estado

Moradores de Mandacaru dividem a casa com os ratos
Mandacaru, uma das 16 comunidades da Maré, que há dois anos foi ameaçada de remoção pela Prefeitura, ainda sofre com a falta de políticas públicas, desde postes de iluminação até a falta de habitação, que ainda é precária. Todos residem em barracos. Doença e desemprego também são outros dilemas enfrentados por eles.
Moradores também sofrem com a ausência de saneamento básico, os esgotos estão todos a céu aberto. Segundo a Agente Comunitária Elizabeth Bento, de 53 anos, os piores dias são os de chuva. “Fui visitar um senhor que está doente e no caminho acabei caindo, machuquei minha perna. Não tem condições de andar aqui. Recebemos sempre muitas reclamações. As crianças, por exemplo, estão com alergia, entre outras várias doenças que surgem nessa época”, diz.
Cecília Jandira, de 50 anos, moradora de Marcílio Dias, também fala sobre a situação de Mandacaru. “É muito esgoto, em alguns lugares nem tem luz. O que precisa é de uma melhoria geral para toda a comunidade. É necessário combater os ratos. O lixeiro só passa duas vezes na semana. Não temos carteiro, todas as cartas são entregues na associação, o que é muito complicado”, comenta.
Para a cozinheira Maria Dalva Martins, de 53 anos, que mora no local há 14 anos, diz que o Estado não os atende. “O que sei é que temos direito a moradia, mas não temos casa. Nós estamos aqui abandonados pelo governo, pela prefeitura, nós não temos nada. Eu tenho uma neta toda mordida de rato, ela já fez quatro plásticas no rosto, ficou toda mordida. Meu outro neto também foi mordido de rato. Estamos à mercê das ratazanas. Uma vizinha acabou de morrer com dengue hemorrágica. Isso é muito complicado, não temos nem médicos no posto daqui, temos que ir para os hospitais, e isso quando somos atendidos”, conclui a moradora Dalva.


Por Foto&Jornalismo Maré

Mais uma vítima da política de (in)segurança no Rio de Janeiro




Criança saía de casa para comprar pão, quando um tiro interrompeu sua vida

Mais uma criança é vítima do descaso da Política Pública de Segurança do Estado do Rio de Janeiro, do abandono, do medo e da injustiça. No dia 4 de dezembro, Matheus Rodrigues, de 8 anos, saía de casa, na Baixa do Sapateiro, Maré, em direção à padaria. Policiais que faziam ronda no local atiraram contra o menino, que nem se quer teve tempo de terminar de abrir o portão de sua casa. Seu corpo ficou caído nos dois degraus que separavam a casa da calçada. Esta já não é a primeira vez que isso acontece. Nos últimos dois anos, pelo menos duas crianças, assim como Matheus, morreram da mesma forma no Complexo da Maré.
A moeda de um real no centro de sua pequena mão entreaberta era um sinal de que o tiro que o atingiu o matou na hora. A bala, de fuzil, desfigurou o rosto da criança. A polícia afirma que no momento havia confronto entre facções rivais e que os policiais quando chegaram trocaram tiros com os traficantes. Que tiros? Nem a família, nem vizinhos ouviu qualquer outro barulho. Que confronto? Onde estão as marcas de tiros nas paredes das casas, os projéteis caídos no chão? Qual mãe pediria que o filho fosse comprar pão durante um tiroteio?
O único som que se ouviu naquela manhã foi o de um disparo. Apenas um, mas certeiro, capaz de roubar a vida de uma criança, marcando não só o no rosto do menino, a calçada ensangüentada, mas a todos os familiares e moradores da região. Moradores inconformados gritavam por justiça. Faixas e cartazes foram confeccionados. Protestos foram realizados nas Linhas Vermelha e Amarela, um carro foi incendiado. Desespero e profunda tristeza acompanharam o caso.
Na manhã do dia 05, aproximadamente às 10h, foi realizado o enterro, também acompanhado de muita emoção e de protestos. Cartazes com as inscrições: “Paz”; “Mais uma de nossas crianças foi assassinada”; “Até quando?”, acompanhavam o cortejo no cemitério do Caju. A Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro colocou seu corpo jurídico à disposição da família.
Infelizmente, essas duras histórias não param de se repetir em favelas do Rio de Janeiro. A Política Pública de (In)Segurança do Rio de Janeiro é uma política de extermínio do favelado que ceifa a vida de quem está pela frente, ou, no caso, de costas. A política de segurança pública deveria, por princípio, resguardar a vida. Entretanto, o que se vê, são policiais explicando e justificando o inexplicável e o injustificável. Trata-se de um sistema que não leva em consideração a cidadania e nem o direito humano à vida.
Mais casos sem acaso
Não por acaso, essa fatalidade remete a outros casos de crianças que foram alvejadas em condições muito semelhantes à morte de Matheus. Claro que estaremos cometendo injustiça em não citar outras vítimas, mas as que serão citadas a seguir foram assassinadas brutalmente em menos de 15 dias do ano de 2006. São elas: Renan da Costa Ribeiro, 3 anos, morto dia primeiro de outubro de 2006, com um tiro de fuzil na barriga, na Nova Holanda, Complexo da Maré. Lohan de Souza Santos, 9 anos, morto por uma bala de fuzil na cabeça no dia 16 de setembro de 2006, no Morro do Borel. Guilherme Custódio Morais, 8 anos, morto dia 20 de setembro de 2006, por bala perdida na Favela do Guarabu, na Ilha do Governador. Paulo Vinícius de Oliveira Chaves, 7 anos, morto atropelado por uma viatura da Polícia Militar, dia 20 de setembro de 2006, em Vigário Geral. Moisés Alves Tinim, 16 anos, morto dia dois de outubro de 2006, com um tiro de fuzil, no Morro da Esperança, Complexo do Alemão.
Não podemos esquecer essas vidas que para nós têm nomes, não são apenas números como tratam as estatísticas. A Gabriela Prado, jovem de classe média assassinada em assalto no metrô da São Francisco Xavier em 2003, ganhou nome de rua na Tijuca. E os nomes das crianças da favela, onde serão lembrados? Nos nossos corações sempre serão lembrados, temos memória.
Maré em luto
Obviamente os mareenses sentiram na pele a dor da perda de mais uma de suas crias. Na última homenagem prestada a Matheus e Renan no Cemitério do Caju, cartazes com as inscrições: “Paz”; “Mais uma de nossas crianças foi assassinada”; “Até quando?”, acompanharam o cortejo. Nesse momento, importantes organizações da Maré se unem para gritar por justiça. Reuniões estão sendo realizadas, atos já foram feitos, um deles nos 60 anos dos Direitos Humanos, realizado dia 10 de dezembro, no centro do Rio. E o objetivo não é parar, é o de mover a Maré, o Rio e o mundo para lutar contra essas injustiças sociais, contra essas realidades cruéis que só nos deixam dor.

Foto: Vânia Bento
Por Foto&Jornalismo Maré