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quinta-feira, 8 de outubro de 2009

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

NOTA PÚBLICA Em solidariedade ao povo da Maré

A VIOLÊNCIA NA MARÉ - Confrontos armados, participação de policiais em ações do tráfico e descaso de autoridades refletem uma política de segurança que desconsidera a vida do morador da favela

Na madrugada do dia 30 de maio de 2009, um grupo de traficantes da Baixa do Sapateiro iniciou a tentativa de tomar os pontos de vendas de drogas controlados por outra facção criminosa em uma comunidade vizinha, a Vila dos Pinheiros.. Oito escolas e cinco creches ficaram fechadas por mais de uma semana, deixando cerca de 10 mil alunos sem aula. Desde então, moradores do conjunto de favelas da Maré vivem uma rotina de extrema violência que é muito pouco divulgada nos meios de comunicação. As autoridades, por sua vez, permanecem com uma postura que é de descaso e, diante do apoio de agentes do Estado nas ações criminosas, também de conivência.

Os confrontos armados são diários. O movimento do comércio é constantemente interrompido e há diversos relatos de casas invadidas, quedas de luz, além de um altíssimo número de mortos e feridos. Nos primeiros quinze dias de conflitos na Maré, em junho, quando a imprensa chegou a dar algum espaço para a situação vivida pelas comunidades, 19 mortes foram noticiadas. No entanto, um levantamento entre moradores aponta para mais de 50 mortes desde o início dos confrontos, há quase quatro meses. Segundo F.S.C., moradora do Morro do Timbau, as pessoas têm medo de sair de suas casas “Passei uma semana sem poder ver meus pais, que moram na Vila do João. Minha mãe já ficou vários dias sem sair para trabalhar e às vezes tem que voltar no meio do caminho, pois os tiroteios recomeçam e ela fica exposta".
Um dos mais graves relatos aponta que policiais teriam participado da invasão à Vila dos Pinheiros. Moradores afirmam que três veículos blindados da Polícia Militar – os chamados caveirões – foram ‘alugados’ para traficantes de uma das facções envolvidas. Na Maré, esta é uma informação naturalizada.. “Todo mundo aqui sabe disso. Várias pessoas viram”, afirma R.A., morador do Conjunto Esperança.
A denúncia do aluguel de caveirões chegou até as autoridades e foi noticiada por um grande jornal do Rio de Janeiro, mas não foi suficiente para iniciar um debate amplo sobre a situação de extrema violência na Maré e sobre a responsabilidade do governo. Pelo contrário assim que a notícia veio a público, a Secretaria de Segurança se apressou em desqualificá-la, em contradição evidente com falas anteriores do secretário José Mariano Beltrame, que por diversas vezes já havia ressaltado a importância de denúncias anônimas para as investigações policiais. Nem mesmo o novo comandante da Polícia Militar, Mario Sergio Duarte, que já esteve à frente do 22º Batalhão, arriscou um pronunciamento responsável.

A reação da cúpula da segurança do estado - negando os fatos antes de investigá-los - reflete a tônica deste governo descaso com os relatos dos moradores das comunidades pobres e acobertamento de ações criminosas praticadas pela corporação policial. O silêncio do governador Sérgio Cabral é, indiscutivelmente, um reflexo dessa indiferença com que os governantes tratam os bairros pobres do Rio de Janeiro, mas pode esconder também uma estratégia perversa a do “quanto pior, melhor”. Depois de meses de ausência deliberada, não seria surpresa se o Estado aparecesse na Maré vendendo como “solução” a realização de mais uma mega-operação policial – como a do Complexo do Alemão, que em 2007 levou o terror às comunidades e resultou na chacina de 19 pessoas em apenas um dia.
Em menos de quatro meses, entre maio e agosto daquele ano, foram registrados pelo menos 44 mortos e 81 feridos durante as incursões policiais no Alemão. Escolas e creches também foram fechadas, e os moradores ficaram sem poder sair de casa. Constata-se objetivamente que o efeito prático das ações policiais violentas do atual governo do Rio de Janeiro é o mesmo dos tiroteios entre traficantes o desrespeito à vida e à liberdade do povo das favelas.
No último dia 12 de julho, o jornal O Globo publicou a matéria “Covil do Tráfico”, em que a cúpula da segurança do estado, ao apontar o Alemão como reduto importante do tráfico de drogas, reconhece a completa ineficácia da ação de dois anos atrás. No entanto, as autoridades prometem repetir as mega-operações policiais, até mesmo como pré-requisito para a implantação de um modelo que vem sendo vendido como novo paradigma na política de segurança do Rio de Janeiro e que ganha contornos eleitoreiros a chamada política “de pacificação”.
Ao contrário do que é pintado no discurso oficial, as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) não rompem com a lógica das políticas de segurança que vêm sendo implementadas seguidamente pelos últimos governos. São diversos os casos documentados de agressão física e de abuso de autoridade envolvendo agentes das UPPs. Além disso, com base em conceitos higienistas e de superioridade de classe, proíbe-se arbitrariamente certas formas de organização social e cultural construídas historicamente nas favelas. Ou seja, a atuação da polícia permanece estruturada em uma relação tensa de controle e confronto com a população negra e pobre, com a restrição de liberdades e a imposição de uma autoridade baseada na coerção de suas armas. De fato, as diversas formas de violência policial são consequência da secular orientação ao militarismo e à brutalidade dentro de comunidades pobres.

Nos últimos anos, o Estado vem seguidamente realizando ações policiais violentas e desastrosas na Maré. Foram muitos casos emblemáticos, mas apenas alguns poucos se tornaram públicos. Em dezembro de 2008, o pequeno Matheus Rodrigues, de oito anos, morreu na porta da casa de sua mãe quando saía de casa para comprar pão e foi atingido no rosto por um tiro de fuzil disparado por policiais. Menos de cinco meses depois, em abril deste ano, o jovem Felipe Correia, de 17 anos, conversava com amigos há cerca de dez metros da casa de sua família. Quatro policiais militares sem uniforme dispararam apenas um tiro de fuzil, que acertou a cabeça do rapaz. Os dois crimes envolvem policiais do 22º Batalhão, o mesmo que é acusado de alugar o caveirão.
Casos como esses trazem a certeza de que o caminho para o fim do sofrimento dos moradores não pode, sob nenhuma hipótese, passar por operações policiais violentas. No último domingo, dia 20, um ato contra a violência reuniu 600 pessoas e percorreu as comunidades da Maré afetadas diretamente com os confrontos dos últimos meses. A manifestação, não à toa, foi realizada no dia em que o menino Matheus e o jovem Felipe fariam aniversário.
As organizações e indivíduos abaixo-assinados se somam em solidariedade ao povo da Maré e reafirmam, categoricamente, que não aceitam mais uma política de segurança que encare a favela como território inimigo e que obedeça a uma lógica de exclusão, em que se governa apenas para alguns e se reserva a outros a violência da repressão, do controle e, frequentemente, do extermínio.

JUSTIÇA GLOBAL

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Luto Como Mãe

O Filme Luto Como Mãe, será exibido no Odeon no dia 01/10/2009 (Quinta Feira) com um debate ao término do filme.
Valor do ingresso: 2 reais

Para melhor visualização, clique no folder ou entre no site do filme.

Site do Filme: http://www.lutocomomae.com/

domingo, 20 de setembro de 2009

Caminhada pela paz reune cerca de 600 pessoas na Maré


Mais de 600 pessoas participaram nesta manhã de domingo (20/9), a partir das 8h, do ato Outra Maré é possível — Pela valorização da vida e o fim da violência. Moradores e militantes de organizações de Direitos Humanos, da igreja e entidades de dentro e de fora da comunidade organizaram o ato em reação à violência que tem provocado, sistematicamente, mortes na Maré, tanto em confrontos policiais como em conflitos entre traficantes de drogas.
Uma cerimônia religiosa deu início ao ato na Igreja São José Operário, na Vila dos Pinheiros, de onde os manifestantes partiram em caminhada pela Maré. O percurso incluiu as principais ruas das favelas Vila dos Pinheiros, Vila do João, Conjunto Esperança e Salsa e Merengue — que, há quatro meses, sofrem diretamente com a disputa de território entre facções rivais.
Com um carro de som e a percussão do bloco Se benze que dá, a caminhada — com bandeiras de vários países simbolizando a união dos povos — durou duas horas. No auto-falante, músicas religiosas se misturaram a palavras de ordem e a sambas, todos com letras de valorização da paz e da vida. Houve ainda atividades de arte para as crianças, que produziram faixas pedindo o fim da violência.
“É muito importante esse tipo de manifestação. Tinha que ter muito mais, uma vez por mês pelo menos seria bom, mas para mudar as coisas tinha que ter mais investimento em educação e saúde”, disse o vendedor Wesckley, de 27 anos, morador do Conjunto Esperança.
Buracos de balas nas paredes e cápsulas pelo chão eram os sinais concretos da violência observados durante todo o percurso. O último tiroteio ocorreu na tarde do sábado (19/9). Mas os conflitos se tornaram rotina diária a partir de maio, com dezenas de mortes, embora sem qualquer visibilidade pública ou posicionamento das autoridades. “A situação na Maré é dramática e a repercussão na sociedade é mínima. A grande mídia não reporta o que acontece. Tinham que estar aqui todos os deputados estaduais, federais e os vereadores, pois essa situação é de calamidade pública. O pobre não tem respeitado o seu direito à paz, tem que se mobilizar para conquistá-la”, disse o deputado federal Chico Alencar (PSOL).


Esta reportagem é uma produção coletiva de comunicadores populares da Maré

sábado, 19 de setembro de 2009

A luta pela terra continua na Baixada Fluminense


Trabalhadores são despejados de acampamento em Paracambi (RJ), mas continuam mobilizados. Laudo do INCRA confirma que fazenda é improdutiva.



Por Gustavo Mehl (Justiça Global)

Fotos de Fabio Caffe (Agência Imagens do Povo)

Do alto de um pequeno monte no município de Paracambi, na Baixada Fluminense, é possível avistar um extenso pedaço de terra sem plantação, animal ou vegetação nativa. São muitos quilômetros quadrados de mato. Entre os morros comidos pela erosão, um bambuzal se destaca. Dali, no dia 16 de agosto do corrente ano, integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) retiraram a matéria-prima para levantar o acampamento Marli Pereira da Silva. Logo começaram a surgir as primeiras mudas de feijão e aipim, plantadas pelas cerca de 150 famílias de trabalhadores rurais acampadas. Nesta quinta-feira, dia 17 de setembro, a pequena lavoura teve que ser abandonada. Representantes do proprietário da fazenda Rio Novo chegaram ao local acompanhados de policiais e de oficiais de justiça que traziam uma ordem de reintegração de posse expedida pela juíza Regina Coeli Formisano, da 6ª Vara Federal.

A negociação para a desocupação da área começou por volta de 7h30. A Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (ALERJ) intermediou as conversas, que foram tensas. Os representantes do fazendeiro não aceitaram a proposta dos trabalhadores, que tentaram negociar um prazo para a saída. "Não tínhamos para onde ir e pedimos uma semana para encontrar um lugar que garantisse as mínimas condições aos idosos e às crianças, mas os representantes do proprietário foram intransigentes" , disse Elisangela Carvalho, integrante do MST e coordenadora do acampamento.


Trabalhadores negociam com advogado do proprietário

Por volta de 13h, os barracos de bambu e lona preta começaram a ser desarmados. Os poucos pertences dos trabalhadores foram retirados. No fim da tarde, um grupo organizado pelo proprietário entrou com tratores para limpar o terreno que havia sido desocupado e houve discussão quando os homens incendiaram os bambus dos trabalhadores que estavam do lado de fora. Já anoitecia quando as famílias se instalaram na beira da estrada, em um barracão coletivo que foi construído às pressas, à margem da propriedade.

O despejo sem um prazo adicional para a reorganização do acampamento gerou uma situação delicada. As crianças não puderam ir à escola, as pessoas não têm onde tomar banho e a água potável está acabando. "Vamos construindo a infra-estrutura aos poucos, na medida do possível. O maior problema é mesmo a falta d'água, mas exigimos da prefeitura de Paracambi uma solução, uma vez que é um direito nosso", disse Elisangela. "O importante é não enfraquecer a mobilização, mas esse povo de luta não se cansa fácil."

INCRA: "GRANDE PROPRIEDADE IMPRODUTIVA"

A Fazenda Rio Novo tem mais de 696,6 hectares, o que equivale a cerca de 700 campos de futebol com dimensão oficial.... Em 2007, o Instituto de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) vistoriou a área e atestou que a terra era improdutiva. O laudo expedido após a vistoria foi o que incentivou os trabalhadores a ocuparem a terra como forma de pressionar o Governo Federal e a Justiça para a desapropriação da fazenda. Durante a negociação do despejo desta quinta-feira, o advogado do proprietário insistiu que os trabalhadores estariam sendo enganados por representantes do INCRA e que o laudo era inválido. O advogado chegou a afirmar que o documento só existia porque o fazendeiro se negou a dar propina a fiscais do INCRA.

A afirmação gerou confusão. O representante do proprietário não sabia que Pablo Alves Pontes, Chefe do Serviço de Meio Ambiente e Recursos Naturais do INCRA, estava presente. "Ele vai ter que provar o que está falando. Isso é um desrespeito com um servidor público", disse Pontes, que completou dizendo que o processo de desapropriação da área é válido e no momento se encontra na Diretoria de Obtenção de Terras e Implantação de Projetos de Assentamento do INCRA, em Brasília. "É um processo público, qualquer pessoa que for à sede do INCRA terá acesso aos autos."

Pontes explicou que a fazenda Rio Novo ainda não foi desapropriada em função de um mandado de segurança pedido pelo proprietário da área, mas deixou claro: "Administrativament e, a questão da produtividade está encerrada: o imóvel é improdutivo, ao menos que o proprietário consiga trazer aos autos provas que mostrem um erro grave no processo." Para Elisangela, o trâmite em Brasília está demorando mais do que deveria: "Por um lado,os órgãos do Governo - inclusive o INCRA - atuam sem agilidade e compromisso; por outro, a Justiça brasileira muitas vezes parece trabalhar na defesa explícita dos latifundiários" .

Elisangela Carvalho e o laudo do INCRA

Elisangela comentou que a improdutividade da fazenda é tão evidente que mesmo uma pessoa sem um conhecimento específico pode constatar a improdutividade da propriedade. O representante do INCRA ressaltou que todo o procedimento técnico e jurídico foi cumprido, e concordou que o cenário que se avistava do alto do acampamento Marli Pereira da Silva já denunciava a improdutividade da fazenda. "Tudo isso é pasto 'sujo' e os morros estão marcados por processos erosivos. Isto indica que o solo foi explorado de forma errada e depois abandonado, violando, inclusive, a legislação ambiental."

A REFORMA AGRÁRIA NA BAIXADA

A Baixada Fluminense já teve um papel de protagonismo na luta pela reforma agrária e contra o latifúndio no Brasil. Na década de 1980, fazendas improdutivas foram desapropriadas em municípios como Nova Iguaçu e Queimados. Os pais de Elisangela participaram do acampamento Campo Alegre, que em 1984 resultou no assentamento de 600 famílias em Nova Iguaçu. "As pessoas têm que entender que a ocupação destas terras paradas por trabalhadores dispostos a produzir vai contribuir com o desenvolvimento e a qualidade de vida no município de Paracambi e em toda a região", disse. "Estamos voltando a nos fortalecer. Esse resgate da luta pela terra na Baixada é fundamental. "


Acampamento Marli Pereira da Silva



Fotos: http://www.flickr. com/photos/ fabiocaffe




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domingo, 13 de setembro de 2009

OUTRA MARÉ É POSSÍVEL:

Ato dia 20 na Maré, às 8h, entre a Vila do João e Vila do Pinheiro, na ponte, em frente a Igreja Católica (Via A1 e Rua Principal) - (Passarela 06 da Av. Brasil).


PELA VALORIZAÇÃO DA VIDA E O FIM DA VIOLÊNCIA.


No domingo, 20 DE SETEMBRO, haverá um ato organizado por moradores, associações, igrejas e organizações de dentro e de fora da Maré. Em um momento em que se tornou impossível conviver com os constantes conflitos, cabe a nós, os moradores da Maré, declarar nosso luto e clamar pela paz. Não aguentamos mais a violência e queremos exigir o fim dos confrontos armados que nos tiram a liberdade e a vida.

Realizar um ato público na Maré significa deixar claro que, nós moradores, não aceitamos que vidas sejam interrompidas, como em junho deste ano, quando dezenas de pessoas foram assassinadas na comunidade, sem contar os feridos. De lá para cá, o número de vítimas só aumenta. A imprensa não noticia. Os governantes ignoram. Quando fazem algo, apenas repetem a ação repressora que costumam utilizar nos espaços populares, gerando mais violência. Entendemos que as ações do Estado não podem ser as mesmas que vêm ocorrendo historicamente nas favelas. Sendo assim, queremos a partir desse ato criar um movimento que luta por outra segurança pública como direito dos moradores da Maré e de todos os espaços populares.

Se para muitos a vida por aqui vale pouco, para nós, moradores, ela é sagrada e deve ser valorizada, sempre.. Em memória de todas as vítimas da violência, nos uniremos para defender a vida e pedir a paz nas 16 comunidades da Maré.

NÃO QUEREMOS NOSSAS ESCOLAS VAZIAS!

NÃO QUEREMOS NOSSAS CASAS INVADIDAS!

NÃO QUEREMOS NOSSA COMUNIDADE ÁS ESCURAS!

QUEREMOS NOSSAS CRIANÇAS BRINCANDO NAS RUAS E NAS ESCOLAS!

QUEREMOS A LIBERDADE DE PODER CHEGAR E SAIR DE CASA A QUALQUER HORA!

NÃO QUEREMOS NENHUM TIPO DE VIOLÊNCIA!

NÃO QUEREMOS MAIS CORPOS NO ASFALTO!

QUEREMOS A VIDA DO POVO DA MARÉ RESPEITADA ANTES DE TUDO!

Foto: Vânia Bento

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Faz o movimento!

O funk, como qualquer movimento cultural vivo, se modifica dentro da favela e incorpora novos elementos. Os passos de frevo foram um desses elementos que o funk incorporou nos últimos anos. Se liga só:



E ainda tem gente que vem dizer que não é cultura!!...

Exposição de Latuff na Palestina

Todo carioca ligado na luta dos movimentos sociais conhece a obra de Carlos Latuff. As charges criticando a violência do Estado nas favelas e os assassinatos de jovens negros cometidos por policiais marcaram a todos nós que moramos na Maré e sofremos com esta situação.

Há anos, Latuff também dedica seu trabalho à causa dos palestinos que lutam por sua soberania. Em novembro de 2006, uma exposição na Palestina - organizada pelo povo de lá, para o povo de lá - reuniu alguns desenhos de Latuff. As fotos abaixo estão postadas na revista eletrônica www.novae.inf.br, um espaço que parece ser bem legal.







Bonito ver o trabalho artístico servindo como denúncia e como motor do processo de resistência.
Tudo que a favela me ensinou,
Tudo que lá dentro eu aprendi,
Vou levar comigo a onde eu for,
Vou na humildade procurando ser feliz
Mesmo com tanta dificuldade
Tantos preconceitos que eu já sofri
Só quero cantar a liberdade
Esse é o trabalho do MC
Levar a voz das comunidades
Aonde o nosso Funk atingir
Pois o favelado de verdade
Vai ser favelado mesmo se sair dali.
Por isso...Sou favela
Eu fuiE sempre serei favela
Sei que na favela a chapa é quente
Pois lá já perdi vários irmãos
Por isso o nosso papo é diferente
Sem apologia a crime, droga ou facção
Pregamos a união das favelas
Sabemos a força que todas elas juntas têm
Por isso que vou em todas elas
Vou sem simpatia sem descriminar ninguém
E são tantas as comunidades
Pena não ter tempo de falar todas aqui
Mas vai um abraço na humildade
De 2 favelados

Junior e Leonardo MCs

Vitória do Funk

Funk sai vitorioso do Palácio Guanabara Estão garantidas no Rio de Janeiro as leis do funk que foram reivindicadas pelo movimento APAFunk, propostas pelo mandato Marcelo Freixo (PSOL) e aprovadas na última terça-feira na Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro. O governador Sérgio Cabral assumiu o compromisso de sancionar as leis ainda há pouco, durante reunião, entre 10h e 11h, no Palácio Guanabara, com o deputado, os MCs Leonardo, Mano Teko e Tojão, diretores da APAFunk, DJ Malboro e a secretária estadual de Cultura, Adriana Rattes. Uma das leis revoga outra, anterior, que censurava o funk no estado, enquanto outra reconhece o funk como manifestação cultural.Durante a reunião, o goverrnador manifestou ainda a intenção de promover estudos para a criação de uma Cidade do Funk no Rio, para a oferta de atividades voltadas para a garotada de rua e com oficinas para a formação de MCs, DJs e profissionais de eletroeletrônica etc.O deputado Marcelo Freixo anunciou mais um projeto de lei dedicado à manifestação cultural popular: para a instituição do Dia do Funk, o dia 1º de setembro, data da aprovação dos projetos de lei na Alerj e que reuniu mais de 600 funkeiros no Palácio Tiradentes."A expectativa agora é que se garanta o diálogo entre a massa funkeira e o poder público para a construção de alternativas para o Rio de Janeiro", afirmou Freixo, sobre a nova realidade possível para os cerca de dois milhões de jovens que frequentam bailes funks no Rio. "O importante é que esses jovens em vez de ser discriminados ou criminalizados sejam disputados pelo poder público", disse Freixo, ainda. Para comemorar essas recentes conquistas da luta do movimento funk pela liberdade de expressão, o governador Cabral decidiu organizar uma grande festa no Palácio Guanabara, com o som da APAFunk e da Big Mix. E a festa já tem data marcada: o dia 26/10. Mais informações:Paula Máiran - 9114-6211/ 2588-1268Assessoria de Comunicação - Mandato Marcelo Freixo (PSOL)

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

GRITO DOS EXCLUÍDOS

VIDA EM PRIMEIRO LUGAR: A FORÇA DA TRANSFORMAÇÃO ESTÁ NA ORGANIZAÇÃO POPULAR!

Dia 7 de setembro às 9hs, na Av. Presidente Vargas
(concentração na esquina com a rua Uruguaiana)

O Grito dos/as Excluídos/as, em sua 15.ª edição, traz para as ruas a indignação dos trabalhadores contra os efeitos da crise econômica e as demissões, por emprego e melhores salários, pela manutenção dos direitos e pela sua ampliação, por Reforma Agrária e Reforma Urbana Já, em defesa dos nossos recursos naturais (O petróleo tem que ser nosso!), contra a corrupção e a impunidade e contra a criminalização da Pobreza e dos dos movimentos sociais.

Assim, trabalhadores e trabalhadoras de todo o país pretendem anunciar, em di­ferentes manifestações populares, os sinais de esperança, através da unidade, da organização e da luta popular, e denunciar todas as formas de injustiça que, em nosso país, causam a des­truição e a precarização da vida do povo e a destruição ambiental em todo o planeta.

Vamos fazer uma bela caminhada e no encerramento teremos apresentação de diversas manifestações culturais da classe trabalhadora.

Venha participar!
Traga sua bandeira de luta!

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

"Quando matam um Sem Terra"

28 de agosto de 2009
Quando matam um Sem Terra
Pedro Munhoz

1.Quem contar traz à memória,sabendo que a dor existe,quando a morte ainda insiste,em calar quem faz a História.Pois quem morre não tem glória,nem tampouco desespera,é um valente na guerra,tomba, em nome da vida.Da intenção ninguém duvida,quando matam um Sem Terra.
2.Foi assim nesta jornada,quando mataram mais um,o companheiro ELTON BRUM,não teve tempo pra nada.Numa arma disparada,o Estado é quem enterrae uma vida se encerra,em nome da covardia.Toda a nossa rebeldiaquando matam um Sem Terra.
3.É o desatino fardado,armado até os dentes,até esquecem que são gente,quando estão do outro lado.E vestidos de soldado,todo o sonho dilacera,violência proliferatiro certeiro, fatal.Beiram o irracional,quando matam um Sem Terra.
4.Quem és tu, torturador,que tanta dor desatas,desanima e maltratao humilde plantador?Negas a classe, traidor,do povo tudo se gera,te esqueces deveras,debaixo de um capacete.Dá a ordem o Gabinete,quando matam um Sem Terra.
5.Em algum lugar da pampa,ELTON deve de estar,tranquilo no caminhar,jeito humilde na estampa.E algum céu se descampa,coragem se retempera,outras batalhas se espera,dois projetos em disputa.Não se desiste da luta,quando matam um Sem Terra

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Resistência


A voz de um morador da Maré

Eu sou da Maré. Nascido na Maré. Sou ponto turístico. Eu não falo o português correto, meus amigos são a corja da sociedade e nenhum deles possui peito de aço. Embora alguns deles tenham armas calibre 88 prontos pra morrer e estejam participando de uma guerra que já dura dois meses.
Eu tenho pés, pernas, braços, peito e coração. E ainda tenho que sorrir quando enfrento a multidão. Também sinto saudades, tais como da Joana que morreu após um tiro matar sua única filha chamada Esperança.
Vento e poeira, modo reflexivo. A favela não dorme, é calada, sufocada. Faroeste dos aflitos, veste a farda e tira a fralda, sem querer fui engajado, sem querer me humilharam. E ninguém sabe, e ninguém viu. É o preço que se paga pra não matarem a puta que me pariu.
Todos de preto, usam gandola, burucutu, faca na boca, revólver 38, coturno, algemas descartáveis, munições especiais e 6 carregadores de pistolas, fuzil 7,62 mm, coldres táticos, um bastão retrátil e estão prontos pra guerrear… Pássaro blindado. Dinossauros do futuro. Mosca morta sem pensar.
Ouço tudo pelo telefone celular e a midiahipocrisia insiste em enfatizar que a favela é violenta, foda-se quem mora lá. Me dá um ódio. Me dê um ópio!
Fundo do poço. Quase morro. Comercial.
Tum-tum-tum! Pá! Pum! Pá! Pum! Bláaaa! Bláaaa!
Modo observacional. Os números me revoltam: 27 mortos, 6 presos, muitos foragidos e eu sem ver minha família há 1 mês.
Enquanto isso, o Santa Marta vira alvo da especulação imobiliária e os moradores começam a sentir o efeito da ocupação militar no bolso.
“Eles (moradores) olhavam assustados para aquelas pessoas, que nunca estiveram ali, mas logo entenderam que estavam ali para conhecer o êxito do projeto que pacificou uma comunidade que era dominada pela violência do tráfico. Foi mais uma demonstração de atenção. Ficaram felizes, já que não são mais tratados como bichos ou pessoas à margem da sociedade”, explica a capitã Pricilla de Oliveira, comandante da Companhia de Policiamento Comunitário do Santa Marta.
Mal sabem eles que os traficantes dessas regiões ocupadas não foram arrebatados por Deus. Estão fortalecendo outras favelas e tocando o terror em outros pontos da cidade.
Denunciar? Nem pensar, isso é cultura popular. Então deixa os hômi entrar, pacificar, esculachar e depois virar heróri?! Melhor se demitir, aqui bandido somos nós.
Gentes do morro, tudo enlatado. Nome vulgo, raça do caralho. Os ditos massa. Guerra covarde, terceiro mundo e ainda dizem que é evolução. Tudo é questão de pá e enxada.
Nem Fome Zero, nem Bolsa Família o que me deram foi meia dúzia de balas perdidas. Meu santo forte é de madeira, nem se mexe pra não dar bandeira. Dinheiro curto, trabalho incerto.
E o povo grita, suplica, tenta se organizar. A repressão bate na porta. Mas prometemos que não vamos recuar. Resistiremos. Tipo Romênia. Tipo Colômbia. E que caiam por terra todos os dominadores deste tempo! Por um complexo da Maré livre!
Tum-tum-tum! Pá! Pum! Pá! Pum! Bláaaa! Bláaaa!
Porque a guerra é armada, a luta conceitual e a batalha não está perdida!
Chega de guerra na Maré quero voltar pro Cabaré!
Mas quem vai me ouvir? Digam aí.
E ó, avisa pra geral: aqui é o cria do Pinheiro!

Criminalização da pobreza é praticada por nossos governantes

“Que Estado é esse que desrespeita o mais fundamental direito, que é o direito à vida? Que política de segurança é essa que extermina as camadas mais pobres da sociedade, que considera cidadão apenas as pessoas provindas da classe média pra cima? Que polícia é essa que extermina nossas crianças e que fala para a imprensa, órgãos regulatórios, entre outros, que o que aconteceu não partiu deles, que a criança morreu por bala perdida em confronto de facções rivais? Que confronto? Onde estão as cápsulas de bala no chão? Onde ressoaram os barulhos dos tiros trocados? Cadê as paredes perfuradas? Apenas um tiro de fuzil foi disparado... tiro este que encontrou seu destino na cabeça de uma criança inocente que saía para comprar o pão”, este relato, assinado e divulgado pela jornalista Silvana Sá, quando Matheus Rodrigues, de apenas 8 anos, foi morto com uma bala de fuzil na cabeça em dezembro do ano passado, tiro dado pela Polícia Militar que fazia ronda na favela em que o menino morava, na Baixa do Sapateiro, Complexo da Maré, Zona Norte do Rio de Janeiro, reafirma a ação violenta e rígida que a polícia tem dentro das favelas cariocas. Além disso, prova também como a mídia e os órgãos públicos tratam essa população, mostrando que a criminalização a eles é claramente defendida e praticada.
A mãe de Matheus, Gracilene Rodrigues dos Santos, que até hoje luta por justiça, buscando uma resposta para tal atrocidade ao seu filho, infelizmente não foi, e não é a única mãe que chora ou chorou pela covarde morte de seu filho. Outras mães de pobre, de negro e de favelado, as maiores vítimas desta violência policial, estão neste extato momento enterrando seus filhos, enterrando sua história, colocando para fora suas lágrimas de dor e revolta.
A resposta dos representantes governamentais para tamanha brutalidade dentro das favelas cariocas, para tantas mortes, é a de combate ao tráfico de drogas. Mariano Beltrame, secretário de segurança pública do Rio, por exemplo, afirma que o estado apresenta um cenário de guerra, por isso, é preciso que a polícia haja com tanta severidade, sendo a conseqüência disso, a morte de muitos favelados. Pois, segundo Beltrame, são nestes locais que se encontram o crime organizado. “O Rio chegou a um ponto que infelizmente exige sacrifícios. Sei que isso é difícil de aceitar, mas, para acabarmos com o poder de fogo dos bandidos, vidas vão ser dizimadas. (...) É uma guerra, e numa guerra há feridos e mortos”.
Argumento parecido foi utilizado pelo então governador do Rio de Janeiro, Sergio Cabral Filho, em abril do ano passado, quando em entrevista ao defender o aborto disse que a mulher de favela é fábrica de bandido. “A questão da interrupção da gravidez tem tudo a ver com a violência (...) Você pega o número de filhos por mãe na Lagoa Rodrigo de Freitas. Tijuca, Méier e Copacabana, é padrão sueco. Agora, pega na Rocinha. É padrão Zâmbia, Gabão. Isso é uma fábrica de produzir marginal. O Estado não dá conta”. Ou seja, em poucas palavras, Cabral, demonstra diferentes formas de entender a sua conduta governamental no Estado, se referindo particularmente as classes mais pobres, pois em uma mesma frase, ele demonstrou seu preconceito ao morador de favela ao afirmar que nela só existem bandidos. O que nos explica o uso dos caveirões nas operações policiais, o abandono das escolas, dos hospitais públicos, da falta de lazer, de emprego, dentre diversas outras coisas básicas para a sobrevivência de cada cidadão.
Pior que saber que a criminalização da pobreza existe, é saber que ela é claramente apoiada, praticada por nossas autoridades. E este método de criminalizar e enganar o pobre é feito antes mesmo das eleições. Sergio Cabral e diferentes outros políticos se aproveitaram das necessidades do povo, prometendo na campanha o que as pessoas mais queria ouvir, mas depois de conseguirem o que queriam não respeitaram esta mesma população que os colocaram lá. De acordo com o Deputado Estadual Marcelo Freixo, a campanha eleitoral de Cabral e o que é hoje o seu governo, significa ser um dos maiores estelionatos eleitorais que já existiu. Pois uma de suas promessas era a mudança na política pública de segurança adotada pelas autoridades anteriores. “Isto não aconteceu apenas na segurança, mas na educação, na saúde, em áreas estratégicas. Na saúde, a única coisa que se fez até agora foram as fundações públicas de direito privado. Na educação, é um governo que investe em laptop, em ar condicionado, e o salário dos professores continua R$ 500. Na segurança, é um governo que comprou nove, ou dez caveirões”.
E tudo isso, eles, as autoridades governamentais, não fazem sozinhos, existem muitos interesses para que essa população pobre, favelada, continue sem seus direitos. A grande mídia, por exemplo, tem grande responsabilidade nisso. Ao cobrir a morte de Matheus Rodrigues, na Maré, no primeiro momento, ela afirmou que este pequeno menino tinha envolvimento com o tráfico. Não ouviu os mais de 200 moradores que estavam no local chorando, clamando por justiça, ela apenas deu ouvido ao que a polícia disse. Como se ser envolvido com o tráfico justificasse a crueldade que esta Política de Segurança Pública do Rio de Janeiro faz dentro das localidades mais pobres, que apenas extermina ao invés de oferecer o direito à vida.
A solução para tudo isso é o ouvir, o analisar, o questionar, o cobrar destas autoridades tudo o que eles prometeram durante suas campanhas eleitorais. Afinal, quem põe eles nos poder, quem é a maioria, é o povo, e são estes que podem mudar esta crua realidade que atormenta todos os dias cada morador de favela e todos os que pertencem a classe mais pobre. É preciso que cada cidadão exija seus direitos. As pessoas, os movimentos sociais e as diferentes instituições precisam se organizar e defender seus interesses. Interesse este que parece ser único, que é garantia dos direitos de cada cidadão, o que se resume ao direito de viver.

domingo, 23 de agosto de 2009

Por que somos nós os escolhidos?? Por quê??

Até quando teremos que lutar por aquilo que dizem que foi nos dado ao nascer!? Até quando teremos que provar o que somos, ou melhor, o que não somos para esta sociedade maldita!? Por que apenas nós, o povo, temos o direito de ouvir tiros e mais tiros, granadas e mais granadas, gritos e mais gritos, choros e mais choros durante a mais preciosa noite que deveria ser aquela noite de descanso!?

Por que será que os anjos, os arcanjos, não nos guardam também!? Por que apenas nós temos o infeliz direito de correr dos caveirões, das tropas, da polícia que nos mata, que nos amedronta e que rir da nossa cara de cansado e medo!? Por que somos nós os que temos que ficar dias e mais dias trancados dentro de casa com medo de uma bala perdida, ou de uma invasão da policia ou do tráfico dentro do nosso próprio lar!?

Por que somos nós os que temos que abandonar nossas casas por causa do tráfico, dessa polícia, dessa política corrupta que além de tirar a alegria, o sorriso, a brincadeira na rua, conseguem tirar o pouco que temos, o nosso pequenino lar? Por que fomos os escolhidos para lavar o sangue daquele menino que brincou com a gente quando pequeno, por que somos nós os que temos que enterrar meninos e meninas, senhores e senhoras que teve a vida interrompida por uma bala de fuzil??

Por que será que somos estes que temos que correr para os hospitais com visinhos ou parentes feridos?? Por que somos estes os escolhidos, juro que eu queria saber o por que que somos estes os escolhidos?? Por que, e até quando?? Será, será mesmo que não merecemos viver!?

E o Estado, cadê nossos governantes que fingem não ver tudo isso, cadê estes que votamos de quatro em quatro anos?? Cadê!?? Como eles brincam com a gente, como brincam com o povo, como riem da nossa cara, como fazem da gente um grande espetáculo, como são sujos e ridículos, como é ridículo tudo isso!!

Clamor pela vida!!!!! - Isso eu não queria fazer!!

Na verdade, ninguém deveria ter o infeliz direito de passar por tudo isso!

Já chega de tanta morte!!!!

Por Foto&Jornalismo Maré

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Sobrado de rock


Galera,

Vocês não podem perder!!!!!!!!!!!! Diversão sem alienação.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Cavalo preto

Nas noites sombrias das favelas
todos esperam o cavalo preto
que vem fazendo barulho pelas ruas
com suas ferraduras blindadas.

O cavalo feito para matar
aterroriza a quem deveria proteger
não respeita ninguém
Quem ele procura para condenar
já é condenado desde pequeno
Quando ele os encontra suas sentenças
já foram aplicadas.

Todos na cidade o conhecem
quem mora lá acha que ele deve
continuar matando e atemorizando
Quem mora aqui pensa que ele não deveria existir.

E neste jogo de empurra, empurra
O cavalo vai se criando
Com o sangue de inocentes
e as ruas da cidade nas favelas inundando.

Enviado para o Foto&Jornalismo Maré

Eu, Você o poema e o livro

A poesia escrita a caneta no livro de Machado de Assis demonstrava toda a paixão pela colega de faculdade. Quando recebeu o livro do até então colega não imaginava a surpresa reservada nas primeiras páginas do livro.

-Tenho um presente para você!
-Legal! Adoro ganhar presente.

Quando leu a dedicatória, que na verdade era um lindo poema de amor, ficou roxa e quase engasgou. Afinal, nos tempos atuais não é muito comum receber um poema de presente de um homem. Naquele momento, pensou que poderia ser engolida pela terra ou arremessada por uma catapulta para a barraca de cachorro-quente que ficava do outro lado da rua.
O que poderia dizer naquele momento? Legal! Não... ele deveria estar esperando outro comentário. Hummm já sei! Poderia agarrá-lo e dar um beijo do tipo desentupidor de pia, colocar nossas fotos no orkut, fazer depoimentos com juras de amor eterno e terminar o namoro dois meses depois. Talvez isso também não seja legal. Caramba, porquê ele foi fazer isso logo agora, me pegar assim tão desprevenida? Eu ainda nem terminei de ler meu livro de auto-ajuda. Já sei! Posso sair correndo... Não, ele vai me achar insensível. Poxa, nunca pensei que fosse tão difícil saber o que fazer. E se eu fizer algo errado? E se eu não fizer nada, ficar simplesmente olhando nos olhos dele até ele cansar e ir embora? Xiii, isso já ta ficando chato, tenho que decidir logo.

- Então, quer ir comer um cachorro-quente comigo ali do outro lado?
- Sim, adoraria!
- Então, vamos.



Por Foto&Jornalismo Maré

Poesias

Cavalo preto

Crônicas

Eu, Você o poema e o livro

Artigos

Os muros que circundam as favelas

O que é a favela?

terça-feira, 21 de julho de 2009

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Maré de memórias







Por Foto&Jornalismo Maré

Com o objetivo de resgatar e contar um pouco da história de seus moradores, surge por iniciativa do CEASM (Centro de Estudos e Ações Solidárias da Maré) através de um projeto chamado Rede Memória o museu da Maré. Inaugurado a três anos, o museu – primeiro em favela do Brasil- já recebeu mais de nove mil visitantes que puderam não só conhecer a história do surgimento do maior complexo de favelas do Rio de Janeiro como também saber um pouco mais da história da cidade.

O acervo do museu é composto por fotos - retiradas do Arquivo Nacional – e por objetos doados pelos próprios moradores. Um dos objetos mais interessantes que compõem o museu é a replica de uma palafita – moradia feita em madeira muito comum na Maré nos anos 80- toda decorada pelos objetos que faziam parte do cotidiano dos primeiros moradores da Maré.

O museu recebe atualmente uma média de 20 pessoas por dia das quais a maioria são de moradores da Maré, mas além da visita dos moradores o museu recebe também visitas internacionais. Estudantes, pesquisadores e museólogos de outros países dentre os quais estão Estados Unidos, Canadá e Holanda.

Desde a sua inauguração o museu já recebeu diversos prêmios e dentre eles estão o Prêmio Cultura Viva e a Medalha de Ordem do Mérito Cultural. Atualmente o museu conta com uma exposição permanente que é dividida em doze tempos não-cronológicos, onde, por exemplo, uma sala conta a história dos migrantes, outra refere-se à infância dos moradores, outra ainda recorda episódios da resistência social das comunidades. Além dessa exposição permanente o museu recebe também mostras itinerantes em parceria com outros espaços culturais da cidade.

O museu funciona de segunda à sexta-feira das 9h às 18 h e aos sábados de 10h às 12h na Av. Guilherme Maxwell, 26 – Maré, e o telefone para contato é o (21) 3868-6748.

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Tensão no latifúndio da ex-Usina Ariadnópolis em Campo do Meio, MG. Risco de massacre de Sem Terra no Sul de Minas






NOTA DA CPT – Comissão Pastoral da Terra – à Imprensa e à Sociedade.

Caso o Presidente Lula não assine o quanto antes o Decreto de Desapropriação da Fazenda Ariadnópolis, no município de Campo do Meio, no Sul de Minas, está na iminência de ocorrer mais uma grande injustiça contra centenas trabalhadores rurais sem-terra ou até mesmo uma tragédia anunciada. Um conflito agrário que se arrasta há mais de 10 anos, com risco de radicalização, se acirra em Campo do Meio, município às margens do lago de Furnas. De um lado, uma ex-usina de açúcar falida com mais de seis mil hectares de terras ociosas desde 1983. De outro, 280 famílias de trabalhadores rurais Sem Terra, ligados ao MST, que instalaram nove acampamentos nas terras da ex-usina Ariadnópolis a partir de 1998. Há também outros dois acampamentos de sem-terra ligados à FETAEMG e mais um outro Acampamento Bandeira Branca, mais 100 famílias. As áreas foram ocupadas em vista de o latifúndio, desde a falência da empresa, não estar cumprindo a sua função social.

Existe ainda o impasse jurídico em que a União e o Estado de Minas reivindicam a área em pagamento de dívidas fiscais da usina no valor de R$ 273 milhões, dívida parcelada em 180 prestações. Tem de ser somada ainda as dívidas trabalhistas que podem chegar a R$ 5 milhões. (Valores em 2005).

Em 09 de novembro de 2005, foi realizada na Assembléia Legislativa de Minas Gerais – ALMG - uma Audiência Pública na Comissão de Política Agropecuária e Agroindustrial, na qual já ficou constatado o conflito e o risco de massacre diante da falta de decisão política do Governo Lula de desapropriar a Fazenda Ariadnópolis por interesse social. Somente essa medida pode superar de forma positiva o conflito instalado na região há muitos anos. Naquela data a advogada Maria Ilka Fernandes Siqueira já alertava as autoridades que “o direito de propriedade deixa de existir quando a terra não cumpre sua função social. Ela deve ser entregue aos trabalhadores para a produção de alimentos".

Para compreender melhor a questão:

Em 1975 a empresa Usina Ariadnópolis captou recursos astronômicos em agências financeiras com lastro em ativos supervalorizados. Há fortes indícios de que os antigos donos eram políticos influentes em Minas Gerais. Todavia , a reivindicação da propriedade ocorreu por meio dos chamados “testas de ferro” que exploram a massa falida, por meio do arrendamento das terras e disseminam ameaças freqüentes aos trabalhadores rurais que ocuparam o latifúndio que não cumpria sua função social.

Desde 1997 o MST – Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra - organiza centenas de famílias Sem Terra para reivindicar a reforma agrária nas terras da ex-Usina Ariadnópolis. Os acampados já foram vítimas de cinco reintegrações de posse, mas, mesmo diante da truculência de gerentes e jagunços, não aceitaram arrendar as terras. Estão produzindo alimentos, produzindo a vida através de práticas agroecológicas, educação do campo e cultivando a solidariedade entre a família Sem Terra e com a sociedade da região.

De vez em quando surgem boatos de reativação da usina. Todavia, mesmo quando existia a monocultura de cana-de-açúcar na área, essa atividade somente gerou empobrecimento do povo e devastação ambiental.

Por tudo isso, a CPT, os representantes do Ministério Público que atuam na Vara de Conflitos Agrários e todos os segmentos sociais que lutam pela democratização da posse da terra entendem que a melhor solução para a Fazenda Ariadnópolis é, sem dúvida, o assentamento imediato das famílias Sem Terra, que já cultivam a área há mais de 10 anos e que estão gerando mais de 1000 empregos diretos, produzindo alimentos para toda a região e recuperando o meio ambiente, devastado pelo plantio de cana-de-açúcar.

A ordem expedida pelo Juiz da Comarca de Campos Gerais, cumprindo a determinação precatória do Juiz da Vara Agrária, exige a saída dos acampados do Acampamento Tiradentes até o dia 17 de maio às 24h. Se não houver a saída amigável, no dia 18, a retirada será pela força policial, o que poderá resultar em um massacre, pois as centenas de famílias Sem Terra não têm para onde ir e estão dispostos a resistir a uma 6ª reintegração de posse. Está claro na precatória do Juiz da Vara Agrária que a reintegração de posse versa somente sobre o Acampamento Tiradentes e não sobre os outros dez acampamentos. Mesmo sendo assim, a polícia e jagunços disfarçados de segurança particulares espalham a ameaça que todos os onze acampamentos (380 famílias Sem Terra) serão despejados.

A viabilidade da reforma agrária na Fazenda é incontestável. A vizinha Fazenda Jatobá foi desapropriada e recebeu 40 famílias de Sem Terra que, hoje, além do direito de acesso à terra e à dignidade, produzem 1600 sacas de café por ano, 1200 litros de leite por dia, dão proteção às matas e nascentes de água e geram mais 180 empregos diretos.

A ex-usina Ariadnópolis deve mais de 180 milhões de reais ao Governo Federal, que mesmo perdoando parte da dívida em um processo de renegociação, poderá reduzir drasticamente o custo da implantação do assentamento de reforma agrária. As terras estão avaliadas em 25 milhões e a empresa já sinalizou que não tem como pagar as dívidas fiscais e trabalhistas.

Exigimos que o Presidente Lula assine sem mais tardar o necessário Decreto de Desapropriação por interesse social da Fazenda Ariadnópolis, nos termos da Lei 4132/62, em Campo do Meio, Sul de Minas Gerais. (Processo número 54170005006/0644). Isso é o que suspenderá definitivamente mais uma reintegração de posse e a expulsão de centenas de famílias de Sem Terra.

A situação do conflito na ex-Usina Ariadnópolis se agravou muito depois que o poder Judiciário concedeu mais uma liminar de reintegração de posse. Os “testas de ferro” dos pretensos possuidores (arrendatários) têm jagunços (eufemisticamente chamados de seguranças particulares) contratados, que vêm aterrorizando as famílias, ao ponto de terem posto fogo em barracos e destruído plantações.

Reafirme, precisamos de todo o apoio. A Comissão Pastoral da Terra alerta a sociedade e as autoridades que, caso o Presidente Lula não assine o Decreto de Desapropriação da Fazenda Ariadnópolis por interesse social, estamos na iminência de mais um massacre de trabalhadores em terras mineiras.

Em tempo, Presidente Lula, até quando os Sem Terra e a sociedade terão que esperar pela desapropriação da Fazenda Nova Alegria, em Felizburgo, Minas Gerais, por interesse social para reforma agrária?

Lá em Felizburgo, no Acampamento Terra Prometida, em 20/11/2004, o fazendeiro Adriano Chafic e cerca de 15 jagunços assassinaram cinco Sem Terra, massacre que continua impune. Basta de tripudiar sobre os Sem Terra, enquanto premia o agronegócio.

Belo Horizonte, 15 de maio de 2009.

Comissão Pastoral da Terra – Minas Gerais

terça-feira, 28 de abril de 2009

Plebiscito na Rocinha


No último sábado (25 de abril), foi realizado um plebiscito na comunidade da Rocinha localizada na zona sul da cidade do Rio de Janeiro. O tema do plebiscito foi: a construção de um muro de 3 metros de altura cercando a comunidade. O projeto é do Governo do Estado e pretende murar 11 comunidades da zona sul com o discurso de proteger a mata atlântica do crescimento desordenado das favelas cariocas (só lembrando que o projeto pode expandir-se para outras regiões da cidade que há muito tempo não existe mais a mata atlântica). A construção do primeiro muro já esta em andamento na comunidade Santa Marta em Botafogo.
O resultado da votação foi o seguinte: 1.056 pessoas repudiaram a construção do muro, 50 votaram a favor e 5 pessoas votaram nulo. O resultado do plebiscito é bem diferente da pesquisa realizada pelo Instituto Datafolha no início deste mês. Nesta pesquisa 47% dos moradores de favelas entrevistados foram favoráveis aos muros e 46% contra. O Resultado desta pesquisa foi o que motivou a organização do plebiscito na comunidade.
A votação foi organizada por uma das associações de moradores da comunidade, que já tinha se posicionado contra a construção do muro.
No dia 6 de maio a Federação das Favelas do Rio de Janeiro (Faferj) realizará na Praça da República às 15h um ato de repudio a obra.


Por Foto&Jornalismo Maré
Foto: Ripper

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Artigo

Os muros que circundam as favelas

Com um argumento bem intencionado, o governador Sergio Cabral pretende cercar 11 favelas da cidade do Rio de Janeiro com um muro de três metros de altura. Vestindo-se de branco o projeto alardeia aos quatro ventos sua intenção: conter a expansão das favelas que avançam sobre a mata atlântica, salvando assim, a natureza dos favelados sem consciência ambiental. Se o projeto fosse original e não tivesse uma concepção excludente, até poderia ser aceito devido a sua intenção explicita.

Além das 11 favelas localizadas na zona sul, o muro poderá ser implantado em outras favelas da cidade. O único problema é que o argumento terá que mudar, pois em grande parte da cidade a mata atlântica já não existe há muito tempo. É inegável que a ocupação urbana desordenada cause problemas ao meio ambiente, mas não é verdade que as construções nas favelas sejam as vilãs da degradação ambiental dos grandes centros urbanos.

Quando os colonizadores aqui chegaram à mata atlântica tinha uma área equivalente a 1,3 milhão de km². 7% é o que resta. Ao que parece, a participação dos pobres sem moradias neste processo de degradação foi mínimo. A incômoda verdade sobre o fenômeno da favelizãção é que esta cresce e se agrava por não existe iniciativas que realmente vise combatê-la. As iniciativas existentes são tímidas, incipiente e não atacam o cerne da questão.

Quem não é cego politicamente verá na história que a favelizãção é o resultado de um sistema excludente que empurra os pobres para os morros e áreas periféricas das cidades. Se assim quisermos, podemos dizer que o tal sistema gera muros: visíveis e invisíveis. Os visíveis caem com força bruta. Já os invisíveis são mais terríveis, pois agem no porão frio e escuro da desigualdade social e não ruirão com força física.

Qualquer um com o mínimo de sensibilidade e um pouco de consciência social sabe que o crescimento das favelas não será barrado com muros, grades ou qualquer outro tipo de contenção física. A questão da favelizãção aloja-se no interior dos muros invisíveis da sociedade e só será combatido, se primeiro derrubarmos a golpes de marretas os muros invisíveis que as circundam. Políticas públicas sérias na área habitacional e um projeto satisfatório de redistribuição de renda poderia ser um primeiro passo.

A favelizãçao é fruto de um sistema desumano que auto se alimenta da exploração. O alimento rico em caloria humana o faz engorda silenciosamente e a gordura excedente ameaça a saúde social dos hipócritas. Admitem a terrível anomalia e são cúmplices dos combates físicos empregados nas favelas. Combatê-la de fato significaria corta o cordão umbilical transportador do alimento gorduroso que mantém o sistema funcionando.

Por Francisco Valdean
Estudante de Ciências Sociais e morador da Maré

Artigo

O que é a favela?

As favelas são heterogêneas e complexas. As definições e respostas para o significado de favela são diversas. Comecemos pelo princípio, pela palavra. Favela: planta rasteira, característica da região Nordeste. Segundo historiadores, após voltarem das batalhas de Canudos, soldados se instalaram nas proximidades da Providência. A partir de então, passaram a chamá-la de favela carioca, numa alusão a Canudos.

Com característica desajeitada, a planta faz lembrar becos e ruelas sem planejamento. Essa é a imagem que o senso comum tem dos espaços favelados. A favela é local que concentra pobreza e pessoas à margem, privadas de bens e acesso à cidade. Ou ainda, a favela é lugar de bandidos (traficantes). Dependendo do ponto de referência do observador, todos são potenciais criminosos.

Por outro lado, moradores de favelas afirmam que menos de 1% dos habitantes dos espaços favelados está envolvido com o tráfico. A afirmação funciona como escudo contra preconceitos, porém a quantidade em nada muda o senso comum sobre esses espaços.

A favelização é um exemplo notório da falta de solidariedade humana. Atrelada à falta de solidariedade, está a inexistência de políticas de distribuição de renda e terras. O trabalhador no campo, vivendo uma situação sufocante e agonizante, vê na cidade uma saída. Mas acaba por se deparar com uma situação igual ou pior da que vivia, é pouco provável que terá acesso na cidade às políticas que não teve quando estava no campo.

Um dos graves problemas dos centros urbanos é a falta de políticas habitacionais, mas não é o único. Vindo de uma situação miserável, sem base educacional, o trabalhador se torna mão-de-obra barata e morador de favela, único lugar que o acolhe. A cidade o aceita na condição primária de que é importante para manter a máquina funcionando e nada mais.

Os espaços favelados são riquíssimos em diversidade, neste campo não existem definições ou explicações fáceis. A única generalização possível é em termos de estética e origem.
A atividade dos espaços favelados é intensa, obedece a uma lógica interna, com variações entre si. Assim como são as atividades humanas em qualquer lugar do planeta.

A desigualdade social brasileira é gritante e histórica. Não há como negar a ligação com o surgimento e a proliferação das favelas. A favela é, na verdade, parte de um vasto processo de exclusão que começa no campo e culmina nas cidades. Uma sociedade que conserva e mantém uma estrutura onde uma pequena elite detém considerável parcela das riquezas e condiciona uma imensa maioria da população a sobreviver com o resto não poderia ser diferente.

Por Francisco Valdean
Estudante de Ciências Sociais e morador da Maré

terça-feira, 21 de abril de 2009

Manifestação

Manifestação em favor da vida na Maré





Em meio a um sentimento de revolta e dor, cerca de 200 moradores do Complexo da Maré, realizou no feriado de Tiradentes (21/4) uma manifestação contra a política de extermínio imposta pelo Estado nas favelas do Rio. O ato simbólico, organizado por familiares e amigos do estudante Felipe Correia dos Santos, de 17 anos, executado no dia 14/4, abraçou a favela da Baixa do Sapateiro onde a vítima cultivou seus laços de amizade e manteve suas relações sociais. Durante a manifestação, que fechou a pista de subida da Avenida Brasil, o pedido por justiça foi entoado pelos moradores ao som de uma marcha fúnebre tocado pelo Bloco Se Benze que Dá, da Maré. Cartazes e cruzes simbolizaram a dor dos familiares que acusam policiais de terem executado Felipe. De acordo com o comandante do 22º BPM (Maré), Rogério Seixas, que acompanhou pessoalmente o ato com caros e blazers da corporação, o jovem seria bandido. Tal versão é enfaticamente negada pelos moradores.

Nem mesmo a chuva fria que desabou durante o ato fez com que os jovens, vestidos com camisetas brancas com a foto de Felipe, se calassem ou perdesse a vontade de provar para o mundo de que se trata de mais um caso de inocente executado pela polícia. Para Jonatas Bezerra de Aguiar, amigo da vítima, o importante agora é “limpar” a imagem que fizeram de Felipe. “Ele era como um irmão para mim. A gente já tinha até se alistado no quartel juntos. E agora, eu quero só justiça. Nós queremos limpar o nome do Filipe, ele não era bandido”. Segundo Patrícia Rodrigues, irmã da vítima, a polícia deve mudar a forma de entrar nas favelas. “É muito triste. A polícia tem que parar de entrar na favela dando tiro na gente. Dessa forma ela se transforma em um verdadeiro bandido”. A mãe de Felipe, Gilmara Francisco dos Santos, pretende lutar para provar que seu filho era apenas um estudante. “Eu estou revoltada. Além de matarem o meu filho, ainda falam que ele e bandido. Vou lutar por justiça”, afirmou.



Segundo Luiz Antônio de Oliveira, diretor do Museu da Maré, a manifestação representa um ato de resistência à política de segurança que criminaliza os moradores de favelas. Para ele, o despreparo da polícia coloca em risco a vida dos moradores. “A passeata é só um movimento de resistência, é um ato de mobilização, que tem que ser contínuo. Estamos com uma política absurdamente burra que não valorizam o ser humano. A violência não se combate matando as pessoas.”

Este ato não foi a única manifestação feita em favor da inocência de Felipe. No dia de sua morte, moradores fecharam as principais vias de tráfego próximas ao Complexo da Maré. Já no dia 15/4, mais de 300 pessoas que acompanharam o sepultamento de Felipe no Cemitério do Caju exibiram cartazes e, após o enterro, fecharam por alguns minutos a Avenida Brasil. Todas essas iniciativas foram violentamente reprimidas pela polícia.

Renata Souza, Gizele Martins e Douglas Baptista
Fotos: Vânia Bento

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Moradores acompanharam enterro de jovem da Maré

Cerca de 300 pessoas acompanharam, nesta tarde, o sepultamento de Felipe Correia de Lima, de 17 anos, no Cemitério do Caju. O jovem, segundo moradores, foi executado ontem (14/4) por policiais com um tiro de fuzil na cabeça em frente sua casa na favela Baixa do Sapateiro, no Complexo da Maré. Durante o enterro, familiares e amigos da vítima gritaram por justiça e, após o sepultamento, fizeram passeata na Avenida Brasil.

Para Mayck Félix, amigo de Felipe, o que a polícia fez foi uma injustiça. “Eu conhecia ele, estudava em Bonsucesso, lá no Pedro Lessa, ele tinha acabado de pedir transferência para Escola Estadual Bahia. Lembro que domingo ele estava muito feliz, falando que tinha voltado para a namorada, que tinha arrumado um novo emprego. E aconteceu isso, foi a maior tristeza para nós, era um moleque tranqüilo, e isso que fizeram com ele, foi a maior covardia”, fala.

O presidente da Associação de Moradores da Baixa do Sapateiro Charles Gonçalves, quis deixar claro que Felipe era apenas um estudante. “Imagina a dor dessa mãe com a perda de seu filho. O menino teve sua carreira parada, era um adolescente cheio de sonhos, estudava, trabalhava, mas que teve a vida interrompida. Ele foi brutalmente executado por uma polícia despreparada. Agora é tentar fazer possível para solucionar esses problemas, temos que ver meios para que isso chegue até o governador, vê se dá um basta para não haver mais inocentes mortos como Felipe”, diz Charles.

Depois do enterro, um grupo de moradores, na sua maioria jovem, decidiu protestar de forma pacífica na Avenida Brasil, sentido lha do Governador, o que não terminou nada bem, já na entrada da Rua 17 de Fevereiro, local em que Felipe foi executado, e onde se findaria a manifestação, policiais apareceram e começaram a gritar para que todos corressem. Todos correram, mas ao mesmo tempo foram atingidos por spray de pimenta e bombas. Alguns moradores caíram, outros passaram mal, e outros foram reprimidos pela polícia, e soltos logo depois.

São inúmeras pessoas que morrem todos os dias nas favelas do Rio de Janeiro por causa da injusta segurança pública que existe.. Algo que não dá mais para suportar. Moradores durante o sepultamento e a caminhada gritavam, clamavam por justiça, direitos humanos, direitos que deveriam ser oferecidos a todos, sem separação de cor, raça e classe social. Até quando este povo terá que enterrar seus parentes, pessoas inocentes, que querem e queriam apenas ter o seu direito de viver.


Por Foto&Jornalismo Maré

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Mais uma vítima da injusta segurança pública do Rio de Janeiro
Felipe, morador da Maré, morre com tiro na cabeça dado pela Polícia Civil

Por volta das 11h de hoje, Felipe dos Santos Correia de Lima, de 17 anos, morador da Baixa do Sapateiro, Complexo da Maré, foi executado com um tiro na cabeça dado pela Polícia Civil, na Rua 17 de Fevereiro, rua em que morava. Segundo testemunhas, eram cinco policiais que chegaram na mais famosa blazer branca, carro já temido por todos da área.. Este carro percorre já há algum tempo, as ruas da favela.
Gilmara Francisco dos Santos, mãe de Felipe, ainda muito abalada pelo ocorrido, em lágrimas, conta como levaram seu filho para o hospital. “Isso é uma injustiça. Ele tinha acabado de acordar e saiu para a rua. Os policiais chegaram e atiraram nele. Na hora, não deixaram os moradores socorrer o menino, todo mundo queria socorrer, e eles não deixaram. Colocaram dentro do carro e foram embora, a tia dele conseguiu ir no carro. Quando ele chegou no Hospital Geral de Bonsucesso, ainda estava vivo, mas a polícia não deixou os médicos atendê-lo, ele ficou lá gemendo e não deixaram ele ser atendido”.
Felipe era estudante e trabalhava em uma lanchonete próxima a sua casa. Natália de Brito, também moradora do local, fala de sua revolta. “Eu estava na rua, indo para o trabalho, não teve tiroteio como estão afirmando, isso não é verdade. Isso é uma injustiça, eu sou contra essa política de segurança, o que existe é extermínio, a polícia vem e mata, é isso o que acontece. Isso é a banda podre da polícia, são todos corruptos. E nós moradores, queremos deixar bem claro que Felipe era trabalhador, vendia cachorro-quente, era estudante, todos gostavam dele, a prova disso é que todos os moradores foram em cima, todo mundo foi para a rua”. Ainda não foi confirmado o horário e local do enterro de Felipe. Moradores querem se organizar e protestarem no enterro.

Por Foto&Jornalismo Maré

domingo, 29 de março de 2009

Mídia e a criminalização da pobreza



Em meio ao subdesenvolvimento e consequentemente às diferenças sociais vividas pela maioria da população brasileira e mundial, nos deparamos com uma sociedade que só enxerga e trata o outro de forma excludente. O que não é por acaso. Segundo a sociedade capitalista, imperialista, é preciso que uns tenham mais acesso, oportunidades e direitos do que outros. Isso significa, em termos práticos, que muito poucos – se considerarmos a proporção de ricos e pobres no mundo – serão aqueles que terão acesso irrestrito a bens e serviços. E é exatamente este restrito grupo que comandará as coisas, como acontece desde a fundação do capitalismo no mundo.
E os meios de comunicação, são os grandes apoiadores dessa sociedade do capital, pois é por meio deles também que se aliena, é por meio deles que se influencia toda a sociedade, seja na vida política, na vida pessoal, etc. O seu papel é o de mostrar sempre a versão do capital, estar sempre contra os trabalhadores, os movimentos sociais e o desenvolvimento equilibrado e justo do país. Ela é uma comunicação que favorece e sempre favorecerá a minoria rica. Eu, como moradora de favela, vejo esta exclusão midiática de perto. Quantas vezes a mídia fala o que realmente existe nas favelas? Quantas vezes mostrou, ou mostra, que ali existem pessoas trabalhadoras, estudantes, gente que quer apenas seu direito de viver? A mídia quando entra na favela é só para cobrir assuntos ligados à violência, isso quando ela relata a verdade do que ocorreu. E isso, nada mais é do que mais uma forma de influenciar a população. Com isso, as pessoas acabam reproduzindo conceitos preconceituosos sobre o morador de comunidade. Os que moram fora, dizem que somos vagabundos, sujos, violentos, entre outras coisas mais. Há uma generalização, todos os meninos são vistos como bandidos, e todas as meninas são vistas como vagabundas, além de relatarem que todos os moradores de favela são preguiçosos, que só não conseguem estudar, trabalhar e etc. porque não são interessados.
Isto não é verdade! Seguramente mais de 90% dos moradores de favelas nada mais fazem do que trabalharem, do que tentarem sobreviver todos os dias. Tudo isso, toda essa reprodução de conceitos que são mostradas nos meios de comunicação fazem com que a maioria das pessoas não respeite o que realmente somos. Muitos moradores não assumem morar em comunidades por conta do preconceito existente e disseminado na sociedade. Exemplo disso é na hora da procura por emprego. É difícil nessas horas você dizer que é morador de comunidade. Pois muitas das vezes, você nem recebe o telefonema de confirmação de currículo.
Nossos governantes, aqueles que votamos de quatro em quatro anos, não nos atendem. Todos sabem que dentro das favelas, há diversos problemas, seja o de habitação, de saúde, de educação, de saneamento básico, e aquele que é considerado o mais grave: a violência. Mas, eles nada fazem para resolver estes problemas, pelo contrário, o que se percebe é que por suas atitudes excludentes, reproduzem o que toda a sociedade acha.
Põem caveirão – (aqui explicar para a platéia que é o veículo blindado usado pela polícia nas incursões em favelas) para “resolver” o problema de segurança, põem Postos de Saúde, sem nenhum preparo de atendimento, nos oferecem escolas precárias. As faculdades públicas deveriam estar lotadas de estudantes de classe baixa, mas estão cheias de pessoas que podem pagar a instituições particulares. Além disso, o Estado apóia ainda a entrada de Ong’s nas favelas, com o discurso de salvar mais um pobrezinho, mais um favelado.
Até quando vamos ter que agüentar isso, até quando vamos tapar nos olhos para isso tudo, até quando vamos aceitar essas injustiças, até quando vamos ter que clamar pelo direito à vida?
Outro exemplo da injusta segurança e da desonesta mídia que temos, é o caso de Matheus Rodrigues, menino de 8 anos, que há um mês foi assassinado pela Polícia Militar na porta de sua casa, no Complexo da Maré, uma das maiores favelas do Rio de Janeiro. E isso não aconteceu apenas com o Matheus não, todos os dias ocorrem isso em nossas comunidades, todos os dias nos deparamos com esta dura e cruel realidade. Há três anos, morreu Renan Rodrigues, de 3 anos. Há aproximadamente quatro anos, morreu Carlos Henrique, de 11 anos, todos eles crianças e inocentes. Eram meninos que queriam apenas ter o direito de brincar, de sorrir, de estudar, de sonhar com o seu futuro. Mas os seus desejos, os seus sorrisos, foram todos covardemente enterrados. Isso por causa do precário policiamento que temos, por causa do massacre que é cada vez mais claro em todas as favelas da nossa cidade, do nosso país. Esse massacre é cada vez mais claro quando se trata de pobre, de negro e de favelado, seja em que lugar ele for, seja em que lugar ele estiver. E estes, nunca fugirão disso, sempre carregarão no peito as marcas cruéis e preconceituosas da sociedade. E como já disse, preconceitos estes, que em sua parte é reproduzida pela grande mídia.

Foto: Vânia Bento
Por Foto&Jornalismo Maré

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Desfile do Bloco Se Benze Que Dá





Defile do Bloco Se Benze Que Dá no dia 14/02/2009. Não percam o próximo desfile dia 28/02/2009 as 09:00 da manhã na Comunidade da Maré.

Fotos: Vânia Bento

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Operação Choque de Ordem na Maré


Hoje, a Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro realizou a derrubada de diversas barracas e trailers que ficavam na Av. Brasil altura da Vila do João durante a operação Choque de Ordem. Aproximadamente 90 agentes da prefeitura participaram da derrubada que ocorreu durante a manhã e pegou os barraqueiros de surpresa. Jilcleide, 36 anos que há 6 anos tem uma barraca de doces disse: “Perdi metade da mercadoria que comprei ontem, aproximadamente R$ 600,00. Eles chegaram logo cedo pegando todos de surpresa. Será que isso é justo? Que país é esse?” relata a comerciante e moradora da Vila do João que depende do comércio para o sustento da família.
Segundo os barraqueiros não houve qualquer posição da secretaria de Ordem Pública em relação à situação dos comerciantes, até o container do mototaxi foi retirado. São aproximadamente 120 trabalhadores que dependem da venda de suas mercadorias para sobreviver, estavam todos muito revoltados com o que aconteceu, algumas pessoas estão ali a mais de 10 anos.
Aguardamos que a Prefeitura apresente um projeto para legalizar os ambulantes da área, uma vez que apenas remover não resolve o problema maior vivido pela população brasileira que é a desigualdade social. Esperamos do novo prefeito não apenas uma cidade em ordem, esperamos uma cidade mais justa e humana para todos. Não podemos aceitar que pessoas que estão trabalhando sejam retiradas da forma tão brusca que foram, sem que seja apresentado um plano de legalização.


Foto: Site do Jornal "O Dia"

A caminho do Fórum Social Mundial



Já na espera do vôo, no aeroporto da cidade do Rio de Janeiro, a caminho do Fórum Social Mundial, em Belém, consegui sentir o que é o espírito de quem participa de quem sonha e luta não apenas por uma comunidade, cidade ou pais, mas de quem deseja um mundo mais justo, igualitário e solidário.
Já a passos da bela cidade, e da dona das mais famosas castanhas do Pará, consegui saborear o espírito de um encontro que já se parecia único. Encontro este, de pessoas de todas as partes do mundo, de todas as nações, povos e raças.
Já aqui, no primeiro dia, junto com todo este tão grande povo, em meio há mais de cem mil pessoas, na mais famosa Marcha do Fórum Social Mundial, em baixo de uma forte e linda chuva, que com certeza veio para lavar a nossa alma, senti uma vontade enorme de lutar cada dia mais, de não parar nunca. Pois, naquele momento minhas forças se renovaram. Foi ali que percebi que não estava sozinha, muito pelo contrario, vi que existem muitos, na verdade, um mundo com uma vontade muito grande de mudar esta realidade tão injusta.


Por Foto&Jornalismo Maré

Comunidade da Maré e a carência do Estado

Moradores de Mandacaru dividem a casa com os ratos
Mandacaru, uma das 16 comunidades da Maré, que há dois anos foi ameaçada de remoção pela Prefeitura, ainda sofre com a falta de políticas públicas, desde postes de iluminação até a falta de habitação, que ainda é precária. Todos residem em barracos. Doença e desemprego também são outros dilemas enfrentados por eles.
Moradores também sofrem com a ausência de saneamento básico, os esgotos estão todos a céu aberto. Segundo a Agente Comunitária Elizabeth Bento, de 53 anos, os piores dias são os de chuva. “Fui visitar um senhor que está doente e no caminho acabei caindo, machuquei minha perna. Não tem condições de andar aqui. Recebemos sempre muitas reclamações. As crianças, por exemplo, estão com alergia, entre outras várias doenças que surgem nessa época”, diz.
Cecília Jandira, de 50 anos, moradora de Marcílio Dias, também fala sobre a situação de Mandacaru. “É muito esgoto, em alguns lugares nem tem luz. O que precisa é de uma melhoria geral para toda a comunidade. É necessário combater os ratos. O lixeiro só passa duas vezes na semana. Não temos carteiro, todas as cartas são entregues na associação, o que é muito complicado”, comenta.
Para a cozinheira Maria Dalva Martins, de 53 anos, que mora no local há 14 anos, diz que o Estado não os atende. “O que sei é que temos direito a moradia, mas não temos casa. Nós estamos aqui abandonados pelo governo, pela prefeitura, nós não temos nada. Eu tenho uma neta toda mordida de rato, ela já fez quatro plásticas no rosto, ficou toda mordida. Meu outro neto também foi mordido de rato. Estamos à mercê das ratazanas. Uma vizinha acabou de morrer com dengue hemorrágica. Isso é muito complicado, não temos nem médicos no posto daqui, temos que ir para os hospitais, e isso quando somos atendidos”, conclui a moradora Dalva.


Por Foto&Jornalismo Maré

Mais uma vítima da política de (in)segurança no Rio de Janeiro




Criança saía de casa para comprar pão, quando um tiro interrompeu sua vida

Mais uma criança é vítima do descaso da Política Pública de Segurança do Estado do Rio de Janeiro, do abandono, do medo e da injustiça. No dia 4 de dezembro, Matheus Rodrigues, de 8 anos, saía de casa, na Baixa do Sapateiro, Maré, em direção à padaria. Policiais que faziam ronda no local atiraram contra o menino, que nem se quer teve tempo de terminar de abrir o portão de sua casa. Seu corpo ficou caído nos dois degraus que separavam a casa da calçada. Esta já não é a primeira vez que isso acontece. Nos últimos dois anos, pelo menos duas crianças, assim como Matheus, morreram da mesma forma no Complexo da Maré.
A moeda de um real no centro de sua pequena mão entreaberta era um sinal de que o tiro que o atingiu o matou na hora. A bala, de fuzil, desfigurou o rosto da criança. A polícia afirma que no momento havia confronto entre facções rivais e que os policiais quando chegaram trocaram tiros com os traficantes. Que tiros? Nem a família, nem vizinhos ouviu qualquer outro barulho. Que confronto? Onde estão as marcas de tiros nas paredes das casas, os projéteis caídos no chão? Qual mãe pediria que o filho fosse comprar pão durante um tiroteio?
O único som que se ouviu naquela manhã foi o de um disparo. Apenas um, mas certeiro, capaz de roubar a vida de uma criança, marcando não só o no rosto do menino, a calçada ensangüentada, mas a todos os familiares e moradores da região. Moradores inconformados gritavam por justiça. Faixas e cartazes foram confeccionados. Protestos foram realizados nas Linhas Vermelha e Amarela, um carro foi incendiado. Desespero e profunda tristeza acompanharam o caso.
Na manhã do dia 05, aproximadamente às 10h, foi realizado o enterro, também acompanhado de muita emoção e de protestos. Cartazes com as inscrições: “Paz”; “Mais uma de nossas crianças foi assassinada”; “Até quando?”, acompanhavam o cortejo no cemitério do Caju. A Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro colocou seu corpo jurídico à disposição da família.
Infelizmente, essas duras histórias não param de se repetir em favelas do Rio de Janeiro. A Política Pública de (In)Segurança do Rio de Janeiro é uma política de extermínio do favelado que ceifa a vida de quem está pela frente, ou, no caso, de costas. A política de segurança pública deveria, por princípio, resguardar a vida. Entretanto, o que se vê, são policiais explicando e justificando o inexplicável e o injustificável. Trata-se de um sistema que não leva em consideração a cidadania e nem o direito humano à vida.
Mais casos sem acaso
Não por acaso, essa fatalidade remete a outros casos de crianças que foram alvejadas em condições muito semelhantes à morte de Matheus. Claro que estaremos cometendo injustiça em não citar outras vítimas, mas as que serão citadas a seguir foram assassinadas brutalmente em menos de 15 dias do ano de 2006. São elas: Renan da Costa Ribeiro, 3 anos, morto dia primeiro de outubro de 2006, com um tiro de fuzil na barriga, na Nova Holanda, Complexo da Maré. Lohan de Souza Santos, 9 anos, morto por uma bala de fuzil na cabeça no dia 16 de setembro de 2006, no Morro do Borel. Guilherme Custódio Morais, 8 anos, morto dia 20 de setembro de 2006, por bala perdida na Favela do Guarabu, na Ilha do Governador. Paulo Vinícius de Oliveira Chaves, 7 anos, morto atropelado por uma viatura da Polícia Militar, dia 20 de setembro de 2006, em Vigário Geral. Moisés Alves Tinim, 16 anos, morto dia dois de outubro de 2006, com um tiro de fuzil, no Morro da Esperança, Complexo do Alemão.
Não podemos esquecer essas vidas que para nós têm nomes, não são apenas números como tratam as estatísticas. A Gabriela Prado, jovem de classe média assassinada em assalto no metrô da São Francisco Xavier em 2003, ganhou nome de rua na Tijuca. E os nomes das crianças da favela, onde serão lembrados? Nos nossos corações sempre serão lembrados, temos memória.
Maré em luto
Obviamente os mareenses sentiram na pele a dor da perda de mais uma de suas crias. Na última homenagem prestada a Matheus e Renan no Cemitério do Caju, cartazes com as inscrições: “Paz”; “Mais uma de nossas crianças foi assassinada”; “Até quando?”, acompanharam o cortejo. Nesse momento, importantes organizações da Maré se unem para gritar por justiça. Reuniões estão sendo realizadas, atos já foram feitos, um deles nos 60 anos dos Direitos Humanos, realizado dia 10 de dezembro, no centro do Rio. E o objetivo não é parar, é o de mover a Maré, o Rio e o mundo para lutar contra essas injustiças sociais, contra essas realidades cruéis que só nos deixam dor.

Foto: Vânia Bento
Por Foto&Jornalismo Maré