Os muros que circundam as favelas
Com um argumento bem intencionado, o governador Sergio Cabral pretende cercar 11 favelas da cidade do Rio de Janeiro com um muro de três metros de altura. Vestindo-se de branco o projeto alardeia aos quatro ventos sua intenção: conter a expansão das favelas que avançam sobre a mata atlântica, salvando assim, a natureza dos favelados sem consciência ambiental. Se o projeto fosse original e não tivesse uma concepção excludente, até poderia ser aceito devido a sua intenção explicita.
Além das 11 favelas localizadas na zona sul, o muro poderá ser implantado em outras favelas da cidade. O único problema é que o argumento terá que mudar, pois em grande parte da cidade a mata atlântica já não existe há muito tempo. É inegável que a ocupação urbana desordenada cause problemas ao meio ambiente, mas não é verdade que as construções nas favelas sejam as vilãs da degradação ambiental dos grandes centros urbanos.
Quando os colonizadores aqui chegaram à mata atlântica tinha uma área equivalente a 1,3 milhão de km². 7% é o que resta. Ao que parece, a participação dos pobres sem moradias neste processo de degradação foi mínimo. A incômoda verdade sobre o fenômeno da favelizãção é que esta cresce e se agrava por não existe iniciativas que realmente vise combatê-la. As iniciativas existentes são tímidas, incipiente e não atacam o cerne da questão.
Quem não é cego politicamente verá na história que a favelizãção é o resultado de um sistema excludente que empurra os pobres para os morros e áreas periféricas das cidades. Se assim quisermos, podemos dizer que o tal sistema gera muros: visíveis e invisíveis. Os visíveis caem com força bruta. Já os invisíveis são mais terríveis, pois agem no porão frio e escuro da desigualdade social e não ruirão com força física.
Qualquer um com o mínimo de sensibilidade e um pouco de consciência social sabe que o crescimento das favelas não será barrado com muros, grades ou qualquer outro tipo de contenção física. A questão da favelizãção aloja-se no interior dos muros invisíveis da sociedade e só será combatido, se primeiro derrubarmos a golpes de marretas os muros invisíveis que as circundam. Políticas públicas sérias na área habitacional e um projeto satisfatório de redistribuição de renda poderia ser um primeiro passo.
A favelizãçao é fruto de um sistema desumano que auto se alimenta da exploração. O alimento rico em caloria humana o faz engorda silenciosamente e a gordura excedente ameaça a saúde social dos hipócritas. Admitem a terrível anomalia e são cúmplices dos combates físicos empregados nas favelas. Combatê-la de fato significaria corta o cordão umbilical transportador do alimento gorduroso que mantém o sistema funcionando.
Por Francisco Valdean
Estudante de Ciências Sociais e morador da Maré
sexta-feira, 24 de abril de 2009
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário